segunda-feira, 15 de setembro de 2008

NÃO DEVEMOS PENSAR APENAS NOS NOSSOS PRÓPRIOS INTERESSES


O problema filosófico que vais estudar pode ser formulado através da seguinte questão: "Por que razão havemos de ser morais?" A resposta que intuitivamente darás é que desse modo viveremos melhor. Talvez a razão que apresentes seja que, se tivermos todos os homens em conta nas nossas escolhas, isso será bom para todos; talvez aches repugnante a ideia de que a tua capacidade de ser moral está confinada à sociedade em que vives, ignorando todos os outros homens.
Mas será que de facto tens todos os outros em conta nas tuas escolhas? Será que não tomas mais em consideração a gripe forte de uma amiga do que os milhares de crianças que todos os dias morrem de subnutrição? Será que a tua inteligência e a tua compaixão se ocupam tanto da tragédia colectiva que é a fome de milhões de seres humanos como de uma vulgar depressão ligeira de uma amiga tua?
A isto provavelmente responderás que nem sempre dás aos interesses e às necessidades dos outros a importância que eles merecem; mas também dirás que os outros têm tanta importância como tu e que os ajudas sempre que isso não implica um sacrifício excessivo para ti. Acima de tudo, parece-te plausível o equilíbrio entre os teus interesses e os interesses de todos os outros homens. Mas será que é? Será que os interesses e necessidades dos outros são tão relevantes como os teus do ponto de vista moral? Intuitivamente dirás que sim, mas por mais estranho que te pareça há quem não pense da mesma maneira.
Tomemos, por exemplo, a conclusão de que os ricos devem ajudar os pobres. A universalizabilidade dos juízos éticos exige que não pensemos apenas nos nossos próprios interesses, levando-nos a adoptar um ponto de vista no qual temos de considerar igualmente os interesses de todos os que são afectados pelas nossas acções. Não podemos defender que um juízo ético tem de ser universalizável e ao mesmo tempo definir os princípios éticos de uma pessoa como os princípios, quaisquer que eles sejam, que essa pessoa considera imperiosos — pois o que aconteceria se eu considerasse imperioso um princípio não universal como "Devo fazer o que me beneficia"? Se definirmos os princípios éticos como quaisquer princípios que tomemos por imperiosos, nesse caso qualquer coisa pode contar como princípio ético, porque podemos considerar imperioso qualquer princípio. Considerar que a ética implica necessariamente, em certo sentido, um ponto de vista universal é uma forma mais natural e menos confusa de abordar estas questões.

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