segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O que são o bem e o mal? - O que é que está bem, o que é que está mal? ii



A vida de uma rapariga na Palestina
Chamo-me Souad e vivo na Palestina.
Sou uma rapariga, e uma rapariga deve caminhar depressa, com a cabeça inclinada para o chão, como se estivesse a contar os passos. Não deve erguer o olhar nem desviá-lo para a direita ou para a esquerda enquanto caminha, porque se os seus passos se cruzarem com os de um homem toda a aldeia lhe chamará charmuta.
Se uma vizinha já casada, uma velha ou quem quer que seja a avistar sozinha numa ruela, sem estar acompanhada pela mãe ou pela irmã mais velha, sem as ovelhas, sem o molho de feno ou um carrego de figos, também lhe chamarão charmuta.
Uma rapariga tem de estar casada para poder olhar em frente, entrar na loja do comerciante, depilar-se ou usar jóias.
Quando uma rapariga ainda não casou, a partir dos catorze anos a aldeia começa a troçar dela. Mas, para poder casar, uma rapariga tem de esperar pela sua vez na família. Primeiro a mais velha e depois as outras. Não conheci folguedos nem prazeres tanto quanto a minha mente é capaz de se lembrar. Na minha aldeia nascer rapariga é uma maldição. O único sonho de liberdade é o casamento. Abandonar a casa do pai em troca da casa do marido e não voltar nunca mais, mesmo que se seja espancada. Quando uma rapariga casada regressa a casa dos pais é uma infâmia. Não deve pedir protecção fora da sua casa e é dever da família levá-la de novo para o lar.

Adaptado de Souad, Queimada Viva, Edições Asa

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