terça-feira, 30 de setembro de 2008

O que são o bem e o mal? - O que farias se fosses invisível?


EXERCÍCIOS
O que é que acabaste de fazer?
Foram-te apresentadas algumas situações, algumas vezes até alguns problemas. Tentaste responder a questões que se te colocaram. Nem sempre os teus colegas concordaram com as respostas que deste, nem sempre concordaram com as tuas ideias. Para convenceres os teus colegas de que tinhas razão tiveste de defender as tuas ideias, apresentando razões.
Em Filosofia às ideias que defendemos chamamos teses e às razões que apresentamos para defender as nossas ideias (teses) chamamos argumentos. E à actividade de defender as nossas ideias ou de criticar as ideias dos outros chamamos argumentação. E é isso que fundamentalmente se estuda em Filosofia.
Mas o que significa então argumentar.
Argumentar é defender ideias com razões.
E o que significa argumentos?
Um argumento é um conjunto de frases em que se pretende que uma delas (a conclusão) seja apoiada pelas outras (as premissas).
Exemplo de um argumento:
Nem tudo o que as crianças fazem é correcto.
O que as crianças fazem é brincar.
Logo, nem toda a brincadeira é correcta.

1- Termina os seguintes argumentos:

O João ou é do Benfica ou do Sporting.
O João não é do Benfica.
Logo, o João _______________.

Se passar de ano os meus pais compram-me uma bicicleta.
Passei de ano.
Logo; ____________________________.

2- O que estará mal no seguinte argumento?

A Manuela ou estudou ou viu o filme na televisão.
A Manuela não estudou.
Logo, a Manuela não viu o filme na televisão.

O Homem é um ser racional. Isso significa que pensa e que a sua acção é influenciada pelo seu pensamento. Se o Homem é um ser racional deveria agir sempre correctamente porque agiria racionalmente.
Aristóteles, um filósofo grego do século IV a.C. criou um raciocínio prático (argumento prático) que, segundo ele, levaria todos nós a agirmos racionalmente se o seguíssemos. O argumento é composto por três frases: duas premissas e uma conclusão. A primeira premissa apresenta o desejo do indivíduo. A segunda premissa apresenta a crença (um conjunto de informações, conhecimentos que o indivíduo tem sobre qualquer coisa). E a conclusão (3ª frase) apresenta a acção escolhida.
Se um sujeito tem um certo desejo e simultaneamente uma dada crença, a acção racional é aquela que melhor satisfaz o seu desejo dado a sua crença.
Exemplo de um raciocínio prático:
O António tem o desejo de ser saudável.
O António acredita que o melhor que tem a fazer para ser saudável é não fumar.
Logo, o António não fuma.

3- Termina os seguintes argumentos:

O João tem o desejo de ter controlo sobre si próprio.
_________________________________________.
Logo, o João não consome drogas.

____________________________________.
____________________________________.
Logo, a Ana não bebe bebidas alcoólicas.

Mas como explicas que o António, por exemplo fume, apesar de querer ser saudável e de saber que o melhor que tem a fazer para ser saudável é não fumar?
Alguns filósofos chamam a isso acrasia. Podemos entender esta palavra como falta de força de vontade ou fraqueza da vontade.

4- A Joana deseja, quando for adulta, um emprego em que se realize e que lhe permita ganhar dinheiro suficiente para ter uma vida digna. A Joana acredita que a melhor forma para arranjar um bom emprego é estudar. Mas apesar de tudo a Joana não estuda. Achas que é falta de força de vontade que a Joana tem, ou pode haver outra razão?

5- Faz um pequeno texto em que vais descrever o que farias se durante um dia inteiro ficasses invisível.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O que são o bem e o mal? - O que farias se fosses invisível?


Uma aula da professora Gertrudes

Uma vez por período, os alunos da aula da professora Gertrudes fazem uma experiência: ficar invisíveis.
A professora Gertrudes, além de ser uma boa professora, também tinha o dom da magia. Fazia uns truques de magia para alegria dos seus alunos e tristeza daqueles que tinham o azar de não ficarem na turma da professora Gertrudes. Conseguia tirar coelhos de uma cartola, serrar uma pessoa ao meio e voltar a colá-la como se nada tivesse acontecido e tinha também a capacidade de tornar os seus alunos invisíveis durante um dia inteiro.
Para esse “dia invisível” a professora Gertrudes não dava qualquer instrução. Cada um era livre de fazer o que quisesse.
Ao longo de todo o período, os alunos esperam ansiosamente por este dia e desde cedo fazem planos sobre o que irão fazer no “dia invisível”.
No dia seguinte ao “dia invisível” a professora Gertrudes pergunta aos seus alunos o que fizeram, e todos tentam partilhar as aventuras que viveram nesse famoso dia. Hoje é um desses dias.
- Eu fui duas vezes ao cinema de graça; à saída gamei uns bolos na pastelaria. Depois hesitei entre ir ao cofre do banco que fica na esquina da rua da escola e ir espiar a minha irmã mais velha no quarto dela. Decidi espiar a minha irmã. Ela nunca me deixa entrar no seu quarto. Diz que quer ter a sua privacidade. Finalmente segui o meu pai até ao seu trabalho – diz a Madalena.
- O que fizeste tu Guilherme? – pergunta a professora Gertrudes.
- Não quero dizer o que fiz – responde atrapalhado o Guilherme.
- Eu quero dizer – pede o Armando. Eu diverti-me porque li todas as sms’s que a namorada do meu irmão enviou para o seu telemóvel. Depois fui à casa do Gonçalo jogar com a Playstation que nunca me empresta; aproveitei também para trazer um jogo fixe para PC em que se dão muitos tiros e matam-se muitas pessoas
- E tu Manuela, que fizeste? – pergunta a professora.
- Como a minha mãe não me deixa comer muitos doces, eu aproveitei esse dia para comer o gelado inteiro que estava no frigorífico. Comi também muito chocolate e duas grandes fatias de bolo. Estive acordada até tarde a ouvir música e a ver televisão. Os meus pais nunca saberão - responde a Manuela.
- Agora quero – pediu a professora Gertrudes – que pensemos sobre o que fizeram. Fizeram coisas boas ou coisas más? O que fizeram é certo ou errado?Vamos ajudar a professora Gertrudes e os seus alunos.

Adaptado de Brigitte Labbé e Michel Puech, O Bem e o Mal, Terramar

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

ÁREA DE PROJECTO DO 7º A - ACTIVIDADES E TRABALHOS A REALIZAR


Ao longo do ano os alunos da disciplina de Área de Projecto no âmbito do projecto Filosofia para Crianças vão realizar as seguintes actividades:
Produção de um diário ético;
Produção de pequenos textos/desenhos para publicar na revista Katársis;
Elaboração de cartazes para afixar na escola;
Recolha de donativos para oferecer ao Cantinho dos Animais Abandonados em Viseu, numa possível visita;
Visita a uma unidade de criação intensiva de animais ou de abate de animais (actividade ainda a ponderar a sua realização);
Apresentação de uma peça de teatro no Dia Aberto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Área de Projecto do 7º A - Temas a abordar


Problema central – como havemos de viver?; o que são o bem e o mal?
Sub-temas
O que farias se fosses invisível?
O que é que está bem, o que é que está mal?
O que significa ser responsável?
Apetece-me viver num mundo em que…
Tens o direito de roubar para comer?
Deves obedecer sempre aos teus pais?
Deve-se dizer sempre a verdade?
Seremos verdadeiramente livres?
Devemos ajudar os outros?
Deves fazer sempre aquilo que queres?
Como devemos tratar os animais não humanos?

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

RESPONSABILIDADE SOCIAL


A nossa vida resulta, em grande parte das escolhas que fazemos no dia-a-dia. A roupa que vestimos, o caminho que vamos percorrer, o alimento, religião, o clube de futebol o partido político. Estamos sempre a nos deparar com encruzilhadas.Alguns produtos que usamos danificam a camada de ozono, contribuem para o efeito de estufa, danificam as florestas, ou poluem os rios e os lagos. Outros são testados, de forma cruel em animais... O que eu tenho a ver com isso? Tudo. Em cada escolha pessoal, estão embutidos os nossos valores e nossa percepção do mundo. Se quero ser mais saudável, escolho o alimento x, ao invés de y, deixo de fumar, passo a fazer caminhadas regulares, a escolha é apenas uma questão de encontrar os melhores meios para atingir os nossos objectivos.Contudo, algumas escolhas pessoais têm consequências colectivas. É o caso da nossa relação com o meio ambiente e a escolha de candidatos nas eleições, são escolhas que requerem "algo mais"... Responsabilidade social é o termo que faz a diferença nessas horas. É preciso entender nossas as acções e escolhas como parte de um contexto social onde o autoconhecimento é o ponto de partida para o processo de mudança.O que queremos alcançar? Que tipo de vida queremos? Em que tipo de lugar eu quero viver? As respostas dessas perguntas estão intimamente ligadas às escolhas que fizermos hoje.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

HÁ AINDA ALGUMA COISA PELA QUAL VIVER?


Há ainda alguma coisa pela qual viver? Haverá algo a que valha a pena dedicarmo-nos, além do dinheiro, do amor e da atenção à nossa família? Nestas aulas iremos encontrar uma resposta. É tão antiga como o alvor da filosofia, mas tão necessária nas circunstâncias actuais como sempre foi. A resposta é que podemos viver uma vida ética. As pessoas que adoptam uma abordagem ética da vida escapam frequentemente à armadilha da ausência de sentido, encontrando uma satisfação mais profunda naquilo que estão a fazer do que as pessoas cujos objectivos são mais limitados e centrados nelas próprias.
Uma vida conduzida segundo padrões éticos é compensadora. Mas temos desde logo de desfazer equívocos que resultam de se associar a ética a um conjunto de preceitos religiosos mais ou menos sem fundamento, ou pelo menos de fundamento duvidoso. Não é disso, obviamente, que se trata. A ética filosófica não é constituída por um conjunto de preceitos religiosos indiscutíveis e geralmente acriticamente aceites, mas antes pela tentativa racional e crítica de agir de forma correcta.
Na Grécia Antiga as escolas de filosofia disputavam entre si a questão de como viver feliz. Com a tradição cristã, este tipo de questão estava, desde logo, resolvida: devíamos todos viver segundo os preceitos cristãos. Mas, hoje, altura em que o cristianismo é apenas mais uma de muitas outras religiões que defendem preceitos distintos, há outra vez lugar para discutir e apresentar propostas em torno desta. A explosão de grupos religiosos e/ou místicos deste final de século mostra que as religiões tradicionais não conseguem já responder à ansiedade que algumas pessoas sentem quanto ao sentido das suas vidas. Se o argumento razoável e o pensamento claro não oferecer respostas a esta questão, as pessoas terão a tendência para acreditar (erradamente) que o pensamento disciplinado e preciso só serve para conferir o troco do jornal e para descobrir vacinas, ficando a questão do sentido da vida relegado para formas de "pensamento" (?) irracionais ou de tendência irracional.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

NÃO DEVEMOS PENSAR APENAS NOS NOSSOS PRÓPRIOS INTERESSES


O problema filosófico que vais estudar pode ser formulado através da seguinte questão: "Por que razão havemos de ser morais?" A resposta que intuitivamente darás é que desse modo viveremos melhor. Talvez a razão que apresentes seja que, se tivermos todos os homens em conta nas nossas escolhas, isso será bom para todos; talvez aches repugnante a ideia de que a tua capacidade de ser moral está confinada à sociedade em que vives, ignorando todos os outros homens.
Mas será que de facto tens todos os outros em conta nas tuas escolhas? Será que não tomas mais em consideração a gripe forte de uma amiga do que os milhares de crianças que todos os dias morrem de subnutrição? Será que a tua inteligência e a tua compaixão se ocupam tanto da tragédia colectiva que é a fome de milhões de seres humanos como de uma vulgar depressão ligeira de uma amiga tua?
A isto provavelmente responderás que nem sempre dás aos interesses e às necessidades dos outros a importância que eles merecem; mas também dirás que os outros têm tanta importância como tu e que os ajudas sempre que isso não implica um sacrifício excessivo para ti. Acima de tudo, parece-te plausível o equilíbrio entre os teus interesses e os interesses de todos os outros homens. Mas será que é? Será que os interesses e necessidades dos outros são tão relevantes como os teus do ponto de vista moral? Intuitivamente dirás que sim, mas por mais estranho que te pareça há quem não pense da mesma maneira.
Tomemos, por exemplo, a conclusão de que os ricos devem ajudar os pobres. A universalizabilidade dos juízos éticos exige que não pensemos apenas nos nossos próprios interesses, levando-nos a adoptar um ponto de vista no qual temos de considerar igualmente os interesses de todos os que são afectados pelas nossas acções. Não podemos defender que um juízo ético tem de ser universalizável e ao mesmo tempo definir os princípios éticos de uma pessoa como os princípios, quaisquer que eles sejam, que essa pessoa considera imperiosos — pois o que aconteceria se eu considerasse imperioso um princípio não universal como "Devo fazer o que me beneficia"? Se definirmos os princípios éticos como quaisquer princípios que tomemos por imperiosos, nesse caso qualquer coisa pode contar como princípio ético, porque podemos considerar imperioso qualquer princípio. Considerar que a ética implica necessariamente, em certo sentido, um ponto de vista universal é uma forma mais natural e menos confusa de abordar estas questões.

domingo, 14 de setembro de 2008

O PROBLEMA CENTRAL DA ÉTICA


Durante este ano vamos falar de ética.
O que significa ética?
Ética é a disciplina tradicional da filosofia, também conhecida por filosofia moral, que enfrenta o problema de saber como devemos viver.
A ética responde às seguintes questões: O que é agir de uma forma moralmente acertada?; O que torna boa ou valiosa a vida de uma pessoa?
A questão central da ética é a questão de sabermos como devemos viver. Vamos tentar responder a esta questão apresentando uma história interessante.
Uma lenda antiga conta-nos a história de Giges, um pastor pobre que encontrou um anel mágico numa fenda aberta por um tremor de terra. Giges descobriu que ficava invisível se colocasse o anel no dedo e o rodasse. Isso permitia-lhe fazer aquilo com que todas as pessoas podem apenas sonhar: podia ir a qualquer lado e fazer o que bem lhe apetecesse, sem receio de ser apanhado. Usou o poder do anel para enriquecer, roubar o que queria e matar quem quer que se atravessasse no seu caminho. Até que invadiu o palácio real, onde seduziu a rainha, matou o rei, e apossou-se do trono. Acabou por se tornar senhor de todo o reino.
Gláucon conta esta história no Livro I da República, de Platão. Se Giges permanecesse virtuoso, permaneceria pobre. Ao quebrar as regras morais, tornou-se rico e poderoso. Nesse caso, por que há-de Giges preocupar-se com a moralidade? Mais: por que há-de alguém preocupar-se com a moralidade, se isso não nos beneficia? Por que há-de alguém falar a verdade, se mentir é mais vantajoso? Por que há-de alguém dar dinheiro para ajudar os pobres, se o pode gastar consigo próprio? A moralidade levanta restrições de que podemos não gostar ou desejar. Então por que não havemos nós pura e simplesmente esquecê-la? Gláucon acrescenta que, na sua opinião, se nunca fossemos apanhados, todos nos comportaríamos como Giges.

sábado, 13 de setembro de 2008

MAIS FILOSOFIA PARA CRIANÇAS


A filosofia ajuda-nos a evitar a barreira do “é assim porque sim”.
Nada é óbvio. Podemos sempre contradizer , dizer outras coisas, por vezes opostas.
Contudo os portugueses entendem a contra-argumentação como uma ofensa, uma crítica, uma agressão. Não há uma cultura de debate em Portugal.
Por isso a filosofia pode dar importantes contributos a uma área de interesse transversal do currículo: o pensamento crítico.O papel do professor na sala de aula é mais facilitar a discussão do que apresentar didacticamente ideias filosóficas. As histórias são um estímulo para as crianças formularem as suas próprias questões e ideias. Tipicamente, os estudantes lêem em voz alta alguns parágrafos da história. Depois sugerem ideias estimuladas pela leitura que achariam interessante discutir em conjunto. Depois apresentam-se actividades e exercícios que podem ajudar os estudantes a progredir na investigação. O objectivo do professor deverá ser o de apoiar a "comunidade de investigação" em que os estudantes iniciam, tanto quanto possível, a discussão e a troca de ideias uns com os outros em vez de simplesmente responderem às iniciativas do professor. Uma discussão robusta levará os estudantes não apenas a afirmarem as suas ideias mas a sustentá-las com razões e a responder às semelhanças e diferenças entre as suas ideias e as dos seus colegas. O objectivo desta "comunidade de investigação" é criar uma noção de respeito pelas ideias dos outros e também pelas suas próprias ideias.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

RECURSOS


A parte principal e mais relevante dos recursos são as histórias. A maior parte delas são adaptações feitas pelos professores de fábulas, histórias infantis, histórias presentes nas obras “Filosofia para Crianças”, Brigitte Labbé, Michel Puech, da editora Terramar, nas obras “Filosofia para Crianças” de Óscar Brenifier da Dinalivro, bem como as narrativas criadas por Lipman.
A partir dessas histórias os professores elaboram um conjunto de questões que serão o mote do diálogo a encetar com os alunos bem como elaborará pequenos exercícios relativos a cada sessão. Poder-se-á usar também DVD’s, computadores e mapas nas sessões em que se considerar necessário. Ao longo das sessões outro material poderá vir a ser necessário mas que será ponderada casuisticamente a sua utilização.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Como fazer filosofia com crianças?


A condução de um diálogo filosófico com crianças e jovens é uma arte. Como tal é algo que exige uma preparação adequada. Não se trata de ensinar filosofia, mas de fazer filosofia.
Para realizar cabalmente esta tarefa educativa não basta o acesso aos materiais. Independentemente do grau académico e área profissional de ensino, importa num primeiro passo, aprender a usar criativamente os materiais, – histórias filosóficas e manuais de apoio ao professor, – e a interiorizar a metodologia. Como os materiais escasseiam - as poucas obras que existem sobre o assunto em Portugal esgotam-se facilmente - , os professores promotores destes projectos têm, eles próprios que elaborar a maior parte dos materiais.
As sessões de FpC desenvolvem-se em três momentos.
Num primeiro momento lê-se a história que o professor traz. Geralmente deve-se pedir a um aluno para ler a história. Se a história tiver várias personagens, pode-se pedir a vários alunos que leiam a história em conjunto.
Num segundo momento é pedido aos alunos que (individualmente ou em grupos previamente constituídos) indiquem as questões, temas, reflexões que a leitura da história suscitou. Deve-se registar no quadro as intervenções dos alunos, bem como o nome daquele que teve a intervenção. Caso os alunos não apresentem qualquer questão deve o professor questioná-los directamente sobre os problemas, ideias, reflexões suscitados pela leitura do texto. Este momento abre um espaço de diálogo entre os alunos e o próprio professor que insistentemente estimula à sua participação. Com um nível etário mais baixo, o professor não pode ter intervenções demasiado doutrinárias porque isso pode influenciar o modo de ver e de pensar do aluno o que seria contraproducente já que se pretende desenvolver o seu espírito crítico.
Neste momento pode-se pedir aos alunos que agrupem as questões pela sua semelhança conceptual ou temática. No fim, imbuídos de uma senda investigadora o professor deve ajudar os alunos a encontrar respostas para as questões previamente levantadas.
Finalmente num terceiro momento deve-se apresentar alguma informação teórica (adequada à faixa etária dos alunos) sem qualquer pretensão doutrinária, como anteriormente foi referido, para os ajudar na resolução de pequenos exercícios, muito simples, em que se exige igualmente respostas simples e relativamente rápidas de elaborar. Neste momento deve-se dar alguma importância aos aspectos da lógica formal para habituar os alunos a pensar com rigor e a apresentar argumentos válidos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Porque hão-de as crianças e jovens fazer filosofia? ii


Numa sala de aula convertida numa “comunidade de investigação”, (ou num ambiente não formal) as crianças e jovens, que convivem com os personagens que habitam a história filosófica destinada à sua faixa etária, desenvolvem todo um conjunto de competências de pensamento (raciocínio, investigação, relacionação, etc.) e de atitudes que, naturalmente, vão transferir para as outras disciplinas e se revelam vantajosas na sua vida quotidiana. Por exemplo:
· Aprender a ouvir
· Fazer perguntas cada vez mais pertinentes;
· Verbalizar melhor;
· Descobrir o valor das ideias, suas e dos outros;
· Ganhar consciência do seu próprio pensamento, estruturando-o;
· Tomar em conta várias perspectivas;
· Ganhar autonomia do pensar e desenvolver uma consciência ética;
· Saber ajuizar: autocorrigir-se, usar critérios apropriados e ser sensível ao contexto;
· Expressar-se criativamente: transcender-se, ter em conta os critérios e o contexto;
· Descobrir os vários tipos de relação entre pensar, falar e agir;
· Desenvolver a capacidade de cooperação, estimular o respeito mútuo, melhorar a auto-estima;
· Explorar e construir conceitos;
· Estimular a apetência pela leitura, aprender a ler em profundidade, expandir o vocabulário;
· Desenvolver a capacidade de escrita, o raciocínio e o debate.
· Enriquecer-se com a diferença – com modos de ser, pensar, agir que não são os seus e aumentar o horizonte cultural das crianças, trazendo informações que geralmente não são tratadas na escola;
. Integrar o trabalho cultural com o aspecto ético, despertando valores universais, como fraternidade, justiça, solidariedade, não-violência, etc;
. Incentivar a participação activa de todos os alunos, estimulando um ambiente democrático na escola.
. Etc.

domingo, 7 de setembro de 2008

Porque hão-de as crianças e jovens fazer filosofia?


Até agora, tem havido um certo preconceito em relação à filosofia. É frequente pensar que a filosofia é algo de complexo e só um adolescente, que adquiriu já algumas capacidades intelectuais, pode iniciar o seu estudo. Segundo Piaget, só na posse do pensamento abstracto (que surge por volta dos 14/15 anos) o adolescente tem as ferramentas indispensáveis para a abordagem dos conteúdos filosóficos. Contudo isto não tem que corresponder necessariamente à verdade. Não é necessário fazer uma abordagem complexa, abstracta dos problemas, ideias e argumentos da filosofia. A criança tem uma visão crítica e indagadora do mundo. Se lhes fornecermos narrativas sugestivas e estabelecermos um diálogo profícuo, as crianças propõem perguntas e às vezes soluções filosóficas que foram as mesmas questões e propostas tratadas por grandes filósofos da história. Com esta forma reflexiva de pensar estamos a fornecer-lhes instrumentos lógicos do pensamento e uma atitude crítica e criativa face ao mundo, necessária e mesmo exigente nos dias de hoje.

sábado, 6 de setembro de 2008

Qual a importância da metodologia?


Face aos desafios que no mundo actual se colocam às diferentes sociedades, a qualidade do ensino, mais do que nunca, reveste-se de importância capital. A FpC, ao incentivar a capacidade crítica e criativa e a responsabilidade e dinamismo e honestidade intelectual dos indivíduos é uma das respostas a esse desafio.
A constatação do professor Matthew Lipman, criador do programa de FpC, de que uma criança tem muito a aprender com os adultos, tal como os adultos aprendem muito com as crianças, acentua o carácter de disponibilidade intelectual e de abertura que é preciso ter por parte de quem quer fazer filosofia com crianças e jovens desde o Pré-escolar até ao fim do Secundário, sem esbater a sua responsabilidade pedagógica e científica. Lipman criou-o ao desenvolver histórias. Criou as histórias partindo de um diálogo entre crianças com temas que se relacionam com as matérias que aprendem na escola, como natureza, valores éticos, estéticos, linguagem. Lipman fê-lo porque se apercebeu que as crianças, quando jovens, chegavam à faculdade sem saber pensar com coerência e achou que alguma coisa falhava nos anos anteriores.Este programa acentua ainda a vertente da educação entendida como uma tarefa conjunta e activa: ao dar voz às crianças e jovens, de uma forma simultaneamente responsável e lúdica, a FpC torna-os participantes activos na própria educação e assegura a autonomia e rigor do pensamento, o aumento de criatividade e a capacidade de pensar criticamente, que se vão ganhando e que não ocorrem separados da realidade.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

O QUE É A FILOSOFIA PARA CRIANÇAS? ii


O contexto do mundo actual impõe um grande desafio aos educadores: a formação de pessoas com as habilidades necessárias para transformar informação em conhecimento e conhecimento em acções consequentes. A velocidade com que são produzidas e repassadas as informações exigem uma forma mais elaborada de apreensão, possibilitando, assim, relacioná-las e delas extrair tudo aquilo que está implícito. Além disso, os indivíduos desta sociedade em rápida transformação terão êxito e serão actuantes na medida em que conseguirem interagir autonomamente com o meio em que vivem. Neste sentido, uma vez mais, a Educação tem papel de destaque na formação deste novo indivíduo. A simples transmissão de informações produzidas ao longo da história já não basta. Cabe à Educação, agora, dar os instrumentos necessários para que, a partir do que já foi construído, as pessoas possam elaborar novos conhecimentos, desenvolver o seu potencial criativo, enfrentar novos desafios, relacionar as informações e tirar as suas próprias conclusões. Diante desse panorama, o programa Filosofia para Crianças salienta a necessidade de se aprender a pensar melhor e a pensar por si mesmo. Experiências já realizadas em Portugal e noutros países têm mostrado que as crianças e adolescentes que estão expostos a esse Programa desenvolvem maior autonomia de pensamento, uma percepção ética mais aguçada, autocorreção, respeito por pensamentos diferentes do seu, respeito pela opinião de outras pessoas, capacidade de dar boas razões para seus argumentos, entre outras habilidades.
A Filosofia para Crianças (FpC) é um programa de desenvolvimento do raciocínio que proporciona através da prática do diálogo, o desenvolvimento cognitivo, afectivo e social, das crianças e dos jovens, nomeadamente a nível da dimensão crítica, criativa e ética do seu pensamento, numa relação profunda entre o pensar, falar e o agir.
Em simultâneo, a FpC é também um instrumento para o desenvolvimento de disposições e atitudes conducentes a uma melhor inserção social das crianças e jovens, futuros cidadãos de uma sociedade democrática, num mundo em rápida mutação, em que a globalização coloca novos desafios.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O QUE É A FILOSOFIA PARA CRIANÇAS?


À primeira vista, entendemos a filosofia como algo enigmático, profundamente abstracto e distante da realidade. Essa visão da filosofia decorre dos complexos trabalhos de pensadores que, ao longo da história, reflectiram e buscaram diferentes respostas sobre questões que continuamente fazemos ao longo de nossa existência. Indagações sobre o conhecimento, sobre os valores, sobre a natureza, sobre a beleza, sobre o homem. Essas inquietações decorrem da necessidade que todo ser humano tem de compreender o significado do mundo e de si mesmo. Na busca dessa compreensão criamos novos significados, questionando e tecendo uma teia de relações cada vez mais abrangentes que nos indiquem respostas, mesmo que provisórias. Desta forma, o primeiro passo para a filosofia é a inquietação que conduz ao questionamento. O objecto da filosofia é a reflexão, o movimento do pensamento que nos permite recuar, nos distanciarmos dos factos aparentemente banais para buscarmos os seus fundamentos. Se é verdade que continuamente reflectimos, nem sempre reflectimos com radicalidade, ultrapassando as fronteiras da superficialidade para buscarmos as raízes de nossa forma de pensar e agir no mundo. A reflexão radical requer um caminho que nos garanta esse aprofundamento. A complexidade da filosofia está na enigmática e surpreendente aventura de ideias que nos identifica e nos diferencia de outros seres. Portanto, a filosofia está presente na ciência, na arte, no mito, na religião, no quotidiano. Embora possamos afirmar que a filosofia esteja presente nas diversas manifestações do humano, ela não se confunde com nenhuma dessas formas de conhecimentos específicos, mas fundamenta-as. Essa busca de fundamentos faz da história da filosofia uma história sem fim, porque diz respeito a todos os homens em todas as épocas. Por isso, nunca é cedo ou tarde demais para iniciarmos essa aventura do filosofar.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

QUO VADIS?


Levar a reflexão filosófica, o pensamento livre e assumido racionalmente para níveis de ensino, onde a filosofia se encontra habitualmente dessarredada, é uma aposta da escola, uma aposta que queremos ganhar e os professores envolvidos tudo farão para não desmerecer a confiança depositada neste projecto.
Iremos tentar fazer um trabalho profícuo com os alunos, tentando conciliar a metodologia da filosofia para crianças com a metodologia de trabalho de área de projecto.
Um instrumento de trabalho com os alunos do 7º ano, entre inúmeros outros, será o presente blog que pretendemos ser um veículo de intercâmbio não só com os alunos mas também com a restante comunidade escolar.
Aproveitaremos igualmente este espaço para divulgar as actividades desenvolvidas, bem como os diversos trabalhos realizados pelos alunos.
Uma vida reflectida é uma vida que merece ser vivida e uma vida com sentido é uma vida que eleva o pensamento. Elevarmo-nos ao nível do pensamento, aprendermos a reflectir sobre a vida é o caminho essencial para uma acção mais responsável.